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Aqui você verá fotos, fotos de vários tipos. E as vezes alguns poemas ou reportagens. espero que gostem e curtam o Blog...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

'História de Um Coração'




Naquele trasnparente deslumbrante dia
Na aula de anatomia, um dia
Sobre a pedra glacial, como um fardo
Desnudo, havia um corpo de mulher
Encontraram-no além, na via férrea
E ao lado d'aquele corpo moço o crânio deformado
De onde se deduziu ter sido, certamente
Essa infeliz mulher vítima de um acidente
Impossível tornar-se à identificação.
Esperaram... Ninguém a reclamou...
Então mandaram-no depois desse trágico dia
Como presente régio à d'outra academia
Quando Guiherme entrou ao velório disse rindo:
"Que corpo escultural, que corpo lindo"
Que pernas! Como são bem feitas! Sem rodeios
Olhava com volupia aqueles seios.
"Rapazes venham ver, a estátua magistral".
De uma Vênus de Nilo um tanto original
E por mais singular que nos pareça
Esta tem braços, sim, mas falta-lhe a cabeça
Que pena um corpo destinado a sala
Todos queriam ver este corpo perfeito
Sem reverência alguma e sem nenhum respeito
Fazendo constatar naquela algazarra forte
Alegria da vida e a tristeza da morte
Silêncio! Aí vem o professor! Nesse instante
Fisionomia austera, o mestre entrou e adiante
Deteve-se a escolher entre instrumentos vários
Os que para cortar eram necessários...
E rodeado afinal, por toda estudantada
O austero professor disse com voz pausada
"Vamos estudar logo o coração..." "Falou..."
E o escalpelo afiado e agudo mergulhou
No colo de alabastro...Esgarçam os tecidos
E todos, um a um, os ossos partidos!
Abre-se o níveo peito... Os seios emurchecem
Esses homens assim impiedosos parecem,
Nessa profanação brutal de lances
Uma horda bestial de feras canibais
Por fim, o professor as grandes mãos estranhas
Sondaram com volúpia o fundo das entranhas
Arrancando de lá, com muita precaução,
Nas mãos do velho sábo ei-lo agora oscilando
E todos com prazer tende-se examinando
"Corte-o Guilherme" Ordena.
O estudante sorri
Empunhando na destra o agudo bisturi,
Que aquele coração em breve irá cortar,
Mais tem que ser assim; É preciso estudar
Porém, treme-lhe as mãos, os nervos não reagem,
Que cousa! Pois é que lhe falta a coragem,
De abrir o coração da desconhecida...
Como se nele houvesse o palpitar da vida!...
Insiste porém... Espedaçá-lo vai...
Mas súbto o bisturi lhe cai! "Então que tens?"
Pergunta o professor surpreso
Enquanto estarrecida a turma em peso
Olha o pobre rapaz... Que cheio de emoção
Resolve não cortar aquele coração...
E a tarde ao regressar a casa pensativo
Sem atinar sequer por que motivo,
Uma tristeza atroz no fundo d'alma sente
Compra acaso um jornal, e lê desesperado
Que o corpo escultural que haviam retalhado
Guardava o coração de sua noiva ausente.

Avany Pongetti- trecho do livro:
" O Diário de um Espírito"